sexta-feira, 26 de junho de 2015

Vá em paz, menina da letra bonita. Esse mundo é horroroso demais para você!

Pessoal, devido ao grande número de acessos, a homenagem para a Allana no Portal 730 está criando instabilidade de acesso e muita gente veio me falar que não está conseguindo acessar. Vou publicar então nesse blog antigo meu (que nem uso mais) para que todos possam repassar suas boas vibrações e carinho para a família dela. Mais uma vez obrigado pelo apoio que vocês têm dado à família e amigos!


Depois de um dia inteiro cobrindo a tragédia do acidente envolvendo o cantor Cristiano Araújo e a namorada Allana Moraes, por causa do ofício, só agora tive tempo para colocar a cabeça no lugar. A ficha está começando a cair.
Há 5 anos deixei o Colégio Prevest, onde fiz o ensino médio, e ainda hoje vivo dizendo que uma das decisões mais acertadas da minha vida foi ter estudado lá. Mais que ensinar a passar em provas, o Prevest ensina a HUMANIDADE, virtude indispensável para a formação de uma pessoa de bem. Quando o Thales, irmão da Allana, foi diagnosticado com leucemia, toda a sala dele raspou a cabeça para dar força ao colega e à família. O DONO do colégio também raspou. Infelizmente o nobre ato não foi o suficiente para salvá-lo.
Foi lá que conheci as pessoas mais importantes da minha vida e também a Allana, a menina da letra bonita. A menina que sempre esquecia de colocar nome nas provas e que tinha que chamá-la correndo de volta nas escadas para assinar as benditas. Por fim, ela nem saia mais da sala enquanto eu não verificasse todo o bloco. E eu adorava quando achava provas sem o seu nome, só pra ver ela desenhando aquela letrinha, tão bonita.
Hoje mais uma fatalidade aconteceu, dessa vez com a irmã do Thales. A Allana, da Família Prevest, e não "a namorada do Cristiano Araújo".
A perda do cantor sem dúvida é lastimável, muito, principalmente por se tratar de uma pessoa tão do bem como ele era. Mas assim como ele, a Allana era um doce. Talvez tenha sido isso que os fizeram se apaixonar. O Brasil perdeu um grande cantor e uma grande personalidade. Os amigos perderam uma menina gentil e apaixonada pela vida. E da letra bonita, também. A Família Prevest, do qual ainda me sinto parte mesmo a tantos anos longe, chora sua ausência.
Espero que possam existir forças para fazer a família passar por mais essa barra. Aos pais, que sirva de consolo o fato de terem criados filhos tão guerreiros e que encheram a vida de tanta gente com alegria esse tempo todo. A Allana foi encontrar o Thales e espero que estejam muito felizes, juntos, onde quer que seja.
Descanse em paz, menina da letra bonita. Esse mundo é horroroso demais para você!
*Originalmente publicado em www.portal730.com.br/murilo-nascente

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

DIA 22

Faltam 6 dias. Nos olhamos por alguns segundos, até que ele teve a primeira reação.
- Preciso falar com ela, velho. – Disse ele já entrando no quarto. Eu estava sem reação nenhuma. Não sabia o que falar, para onde olhar, o que fazer. Permaneci imóvel, em pé ao lado da porta, com a mão ainda sob a maçaneta, querendo empurrá-la de volta para a tranca e imaginar que nunca tinha havia tirado de lá.
            No desespero, procurei Clarice. Ela continuava sentada na cama, com os olhinhos arregalados. Sua expressão deixava bem claro que ela já esperava que isso acontecesse e, mesmo assim, não foi capaz de ficar menos surpresa. Ao encontrar meu olhar com o dela, aconteceu o que eu mais temia. O brilho que havia se instalado nos olhos de Clarice denunciavam, mais que isso: gritavam, que ela queria ter essa conversa. Fiz um gesto com a cabeça concedendo que ficassem a sós, puxei a porta levemente e enfim voltei a maçaneta para a tranca.
            Era ali o fim de tudo. Ou o começo de uma nova etapa. Mas para mim, o fim voltava a ser o caminho mais certo. Aquela situação havia reimplantado nas minhas entranhas a descrença, o negativismo e a infelicidade. Ouvi novamente o choro desesperado peculiar de Clarice, acompanhado de alguns sons esporádicos que sugeriam que ela esmurrava o peito do ex-namorado. Eles discutiam. Ele gritava e ela chorava. Algum tempo depois tudo ficou em silêncio, tive medo. Decidi sair dali, virei as costas e fui para a recepção do hotel.
            Lá fiquei olhando para a TV, sem prestar atenção em nada. Minha cabeça girava a mil, me deu uma vontade louca de chorar, mas me contive. Algumas lágrimas teimaram em descer, mas antes que escorressem rosto à baixo, enxuguei-as. Segurei o resto e fingi que prestava atenção no programa ridículo da TV. Passaram 15, 20, 30 minutos. Decidi sair. Fui andar em volta do hotel, ou em qualquer outro lugar que fosse.
            Não sei por quanto tempo andei e nem onde eu estava. Parei porque senti minhas panturrilhas formigando, o que me fez pensar que já teria andando bastante. Estava perto de uma praça, como na primeira noite que tivemos juntos. Sentei em algum banco, fiquei olhando para umas crianças que brincavam no parque. Uma delas caiu do balanço e, ao levantar, chorou descontroladamente. Senti uma inveja enorme, era tudo o que eu queria fazer.  Alguns minutos sentados ali e decidir procurar o caminho de volta. Me coloquei no sentido contrário que eu vinha, e com algumas informações pedidas, cheguei ao hotel. Por alguns instantes pensei que Clarice podia estar na recepção, aflita ou até ansiosa pela minha volta. Não, ela não estava lá.
            Fui adentrando o corredor, as palpitações do meu coração eram descontroladas e juro que se alguém se colocasse atento, poderia ouvir o barulho das batidas ecoarem pelo cômodo. Girei a maçaneta e me coloquei dentro do quarto. Não interessa se ele ainda estaria lá, se eles estivem juntos, se estivem juntos nus na cama. Eu estava pagando o quarto, eu ficaria ali.
            Quando entrei, Clarice veio ao meu encontro, parecendo inquieta da mesma maneira que estava antes de tudo acontecer.
- Era ele no telefone hoje de manhã, não era? – perguntei com um certo tom de rancor na voz.
- Uhum – respondeu ela.
- Você falou onde a gente tava? Lógico que falou, né? Como ele descobriria?
- Mas é que...
- Nada – gritei – Não é nada.
- Me escuta, precis....
- Não, não precisamos. Eu sei muito bem o que acontece agora, e quero me poupar dessa palhaçada toda. Tô vazando. – Gritei mais uma vez, de uma maneira que nem eu mesmo sabia que poderia gritar. Eu estava tomado de raiva, possesso. Nada naquele momento me faria racionar em alguma coisa sequer. Fui até minha mochila, que ela tinha arrumado pela manhã, peguei-a e joguei no ombro direito. Fui até o banheiro, recolhi minhas coisas e ela veio atrás de mim.
- Não faz assim, cara. Vamos conversar! Não dá pra fazer isso depois de tudo que a gente viveu aqu....
- Não dá mesmo, ué, Não dá. Mas quem fez, foi você.
- Mas você nem me escutou ainda, espera!
- E precisa? Precisa? Mesmo? Olha para você e veja se precisa. – Continuei andando. De saída do quarto, peguei minha carteira, joguei algumas notas na cama.
- A diária vale até amanhã. Quando você sair, acerta lá. – E fui me retirando. Ela avançou em mim, puxando meu braço, me olhando com lágrimas nos olhos.
- Cara, me solta. Chega, deu pra mim. Só quero voltar e esquecer isso, tô indo. – Ela se jogou na frente da porta e colocou forçou as mãos contra o meu peito. Empurrei-a de lado, abri a porta:

- Nem pensa em vir atrás de mim, não quero passar vergonha na rua. Tchau – Bati a porta e deixei ela lá dentro. Na recepção avisei a moça que Clarice ficaria até amanhã e faria o pagamento. Quando saí do hotel dei uma última olhada para trás, ela estava na recepção, sentada no sofá, chorando. Voltei meus olhos para frente, chamei um táxi na porta, e fui para a rodoviária.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

DIA 21

Faltam 7 dias.  Era nossa penúltima noite no hotel, e isso me trazia uma certa apreensão, uma incerteza. Como seria tudo depois da viagem? Será que continuaríamos juntos? Eu nem sabia onde ela morava, só sabia que era na mesma cidade. O encanto ainda pairava sobre tudo ao nosso redor, porém, um horizonte cinzento e incerto começava a apontar na paisagem.
Decidi não conversar com ela sobre isso durante nossas últimas horas da viagem. Não sabia o que aconteceria, então era melhor não arriscar e pôr tudo a perder. Mas, cedo ou tarde, essa conversa teria que acontecer, planejei para que fosse no ônibus, durante o trajeto que nos levaria de volta ao nosso mundo real. Perdido nesses pensamentos eu vi o sol nascer, se espremendo no feixe que se formou entre as cortinas mal fechadas e tomando o quarto. A luz alaranjada banhou nossa cama e acordou Clarice, que dormia ao meu lado. Ela abriu os olhos lentamente, esfregou-os e voltou-se para mim. Deu um sorriso que me fez esquecer tudo que pensava até ali. Beijei-a.
- Bom dia, lindo! Já tava acordado? Quê que aconteceu? Sempre acordo primeiro que você – Perguntou ela.
- Ué, não sei. Acordei sozinho. Estranho mesmo.  
- Hum...faz muito tempo?
- Não, nada. Uns 10 minutos só – menti.
- Ah. Então aproveita que você está invertendo os papéis e busca o café hoje então, enquanto eu tomo banho. Pode ser?
- Ué, claro! Deixa eu me vestir então – Disse sorrindo enquanto tirava meu braço que estava embaixo dela.
Me levantei, fui até as mochilas, que por sinal nunca tinham sido arrumadas desde que chegamos, peguei alguma coisa e fui para a sala do café. Cheguei lá e peguei o que ela gostava: Suco de uva, pão com requeijão e um pedaço de bolo de cenoura. Tentei organizar tudo dentro da bandeja para facilitar a minha viagem até o quarto, mas minha falta de destreza era tamanha que por várias vezes quase derrubei todo nosso café da manhã.
Quando cheguei no quarto, Clarice estava no telefone. Percebi uma certa inquietação na maneira de falar dela, um estranho nervosismo.
- Vou desligar, depois a gente se fala. Tá tudo bem. Tchau – desligou correndo.
- Quem era? Você ficou nervosa.
- Ah, minha mãe me enchendo porque eu já deveria ter voltado e ainda tô aqui. Mas não esquenta não que já tá tudo certo. Já expliquei.
- Ah, ok. – Achei estranho. Ela nunca tinha mencionado a mãe ou ninguém da família, isso me fez pensar que para eles, o fato dela estar viajando não importava tanto assim. Esse tempo todo não a vi recebendo nenhuma ligação, mas concordei que já era hora.
Comemos o que eu tinha levado, e ela fez questão de ressaltar que havia lembrado tudo que ela gostava. Ganhei um monte de beijinhos por causa disso. Ela estava pronta para sair, então fui para o banho, já que hoje, especialmente, tínhamos invertido os papéis. Ela ficou no quarto, começando a organizar o emaranhado de roupas sujas e limpas que havia se formado no canto do quarto.
Estava lavando o cabelo, quando escutei a porta se abrir. Ela invadiu o boxe, entrou debaixo d`água de roupa e tudo e começou a me beijar. Abracei-a pela cintura, e meu corpo terminou de molhá-la, ela passava as mãos pelo meu cabelo, como se quisesse ajudar a enxaguá-lo. Comecei a tirar sua roupa, que estava bem mais pesada que o normal, por conta da água, até que ficamos, nós dois, nus. Nos amamos no chuveiro e terminamos na cama.
Decidimos então ficar no hotel aquela tarde. Era a última antes de embarcarmos de volta e, por isso, queríamos mais tempo para nos curtir. O clima estava quente, bem praiano, mas ligamos o ar condicionado, deixamos a temperatura mais baixa, e ficamos debaixo dos lençóis. Fazendo nada. Conversando, trocando carícias. Entre uma saída para almoçar, intervalos para ir ao banheiro, pegar o controle remoto da tv ou alguma comida, ficamos ali o dia todo.
Já no fim da tarde o interfone do quarto tocou. Atendi, era a recepcionista do hotel dizendo que tinha alguém que queria nos ver. Fiquei assustado. Quem me procuraria tão longe, se nem em casa me procuravam? Pedi para ela liberar a entrada e contei para Clarice. Vi seus olhos se arregalarem como se vissem um fantasma. Ela empalideceu e ficou muda. Poucos segundos depois a campainha do quarto tocou. Clarice me secou, ainda estática, até que eu chegasse na porta. Abri. Dei de cara com o cara que tinha abraçado Clarice na rodoviária.

   

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

DIA 20

Faltam 8 dias. O afeto que nos tomou criou um novo clima, um novo ambiente, como uma redoma de vidro. Tinha criado um universo paralelo, que nos acolhia tão maravilhosamente e nos fazia os únicos habitantes daquela realidade. A manhã que se seguiu à nossa noite de amor foi bem menos estranha do que eu temi. Como de costume, ela acordou antes de mim, já tinha se trocado e saía para a sala do café. Quando me despertei fiz questão de não avisá-la. Esperei que deixasse o quarto, assim teria mais tempo para pensar nas possibilidades que nosso primeiro encontro após o acontecido teriam.
            E se ela tivesse se arrependido? Se não tivesse passado de um momento, apenas? Será que ela teria vergonha de me olhar? Eu sem dúvida tinha. Nunca havia lidado com essa situação pós-transa, não sei como devia agir e muito menos como ela reagiria. Continuei deitado, naquela morbidez matinal, esperando que uma ideia caísse dos céus, ou de qualquer outro lugar. Clarice chegou antes da ideia, sem chegar a uma decisão, voltei a fingir que dormia. Diferentemente dos outros dias, ela veio me acordar. Senti sua presença, de leve, avançando pela cama. Segundos depois ela me deu beijo, que acompanhava um gemido me pedindo para acordar.
- Bom dia! – Ela falou quando abri meus olhos, bem devagar para não destoar e denunciar minha encenação
- Bom dia, tudo bem? -  Respondi com naturalidade, sugerindo que nada tivesse acontecido.
- Tudo, e aí, dormiu bem?
- Dormi.
- Nossa, como assim, dormi? Só? Nem parece que...
- Ué, não. Dormi muito bem mesmo, é que ainda tô meio sonolento – menti.
- Hum...esperava que você acordasse mais feliz, sei lá. Eu acordei...
- Eu também, Clari. Desculpa, vem cá – falei abrindo os braços na esperança que ela se acolhesse entre eles.
- Ah, tá! – exclamou mais animada, respondendo ao meu gesto. – Clari? Nunca haviam me chamado assim – soltou uma risada – gostei. Vem aqui comigo. – me puxou da cama, sem ao menos me dar tempo de vestir melhor. Pegou na sua bolsa a carteira de cigarros, que eu nem lembrava que existia, e acho que ela também não, já que durante todo esse tempo não senti cheiro de fumaça ou nicotina nela.
-  Já fumou? – perguntou.
- Não.
- Sério?
- Aham
- Então fuma um desses comigo, só pra relaxar.
- Ah. Não. Acho que não faz meu tipo isso aí...deixa pra lá.
- Só um! Eu quase nunca fumo, muito as vezes. Você nunca ouviu falar que depois de...
- Já! Que é costume, né? Mas não levo a sério...
- Eu também não, mas...Ah vai logo – foi me empurrando um, enquanto tentava acendê-lo. – É só não puxar muito forte, deixa o fumo queimar naturalmente, devagarzinho... – Explicou colocando o cigarro na minha boca. Senti novamente o gosto amargo da nicotina, que obviamente não contaria a ela que já tinha conhecido naquela circunstância ridícula. Segui o que ela falou, não traguei e deixei a fumaça, aos poucos, entrar em minha boca. Para minha supresa não me engasguei de novo, nem senti ânsia de vômito. Suportei aquilo, e me senti aliviado por não passar mais uma vergonha na frente dela.
- Viu? É Tranquilo...
- É – concordei baforando uma nuvem de fumaça. – Ficamos mais algum tempo por ali, ela pegou um e me acompanhou. Terminamos de fumar, tomei um banho e nos preparamos para sair mais uma vez. Os dias iam se passando, a viagem ia acabando e tínhamos mais alguns lugares para aproveitar.


sábado, 31 de agosto de 2013

DIA 19

Faltam 9 dias. Depois daquele beijo as coisas mudaram entre nós. Deixamos de nos tratar como apenas amigos e algumas outras intimidades surgiram no nosso relacionamento. Porém, não éramos e também não agíamos como namorados, um meio termo entre amizade e namoro resumia bem nossa relação. As coisas iam bem, a tensão latente de antes e depois do beijo ia desaparecendo gradativamente, deixando tudo ainda mais prazeroso.
            Passávamos os dias fora, como desde o início da viagem, e a noite voltávamos para o hotel, onde podíamos curtir mais um ao outro. Por conta da nossa nova condição, ela tomava bem menos cuidado com algumas situações. Antes, as trocas de roupa eram tensas, feitas no banheiro com bastante cuidado. Agora não, ela saía do banho apenas de toalha e passava por mim sem grandes constrangimentos. Dormir ao lado um do outro também deixou de ser uma tarefa complicada e tinha se tornado um momento de grande expectativa e, pelo menos da minha parte, de excitação.
            Em uma dessas noites tínhamos chegado da rua, e cansado, deitei. Poucos segundos depois ela me acompanhou e se acomodou ao meu lado. Nos beijamos por alguns instantes, no final do beijo, senti sua boca no cantinho da minha orelha. Com a respiração ofegante, a voz bem baixinha ela soltou:
- Tô com vontade. – Meu coração voltou a acelerar, como nas primeiras vezes em que conversei com ela. Fiquei meio atordoado, sem saber o que fazer.
- Do que? – Perguntei, sem perceber o quão ridículo soava aquela indagação.
- Ué, você sabe...Você, nunca, né?
- Não...
- Fica tranquilo, não precisa ter vergonha. – Ela se levantou, desligou a luz e voltou para a cama. Senti seu calor se aproximando de mim, Ela tirou a blusa e a pouca luz externa iluminava ao mínimo o quarto e deixava à mostra a silhueta dos belos seios que ela tinha, ainda parcialmente escondidos pelo sutiã. Tudo ficava ainda mais excitante.
Senti seus lábios no meu pescoço, subindo até o inicio da minha orelha. Passava a mão nos meus ombros, as vezes descendo até o peitoral. Ela se aproximou, senti seus peitos, me arrepiei dos pés à cabeça. Como numa valsa, Clarice ia conduzindo aquela dança. Tirou minha blusa, se envolveu entre meus braços. Ainda trêmulo, acariciei suas costas e senti que ela também se arrepiava com meus toques. Desabotoei seu sutiã e levemente, senti ele escorregar entre nossos corpos. Meus pensamentos viajam à lugares jamais imaginados, meu corpo vivia um turbilhão de sensações que me faziam entrar em delírio. Paulatinamente ela ia se despindo completamente, elevando meu estado de excitação à um ponto que eu sempre pensava que não era possível aumentar. Percebendo que eu não seria capaz de fazer muitas coisas, ela ia tomando as ações por mim. Me entreguei por completo a ela, e nos amamos naquela noite.
Durante toda a madrugada permanecemos num clima diferente. Nos intervalos, conversávamos sobre tudo que havia acontecido entre nós, desenrolando como uma fita a sucessão dos fatos que nos levaram até aquele momento. O ônibus, a velha gorda, o namorado, o encontro no hotel. A soma disso tudo tinha resultado no momento mais especial da minha vida. Não por perder a virgindade, mas por ter enfim lutado e conseguido alguma em coisa em minha vida. Queria que aquele momento durasse por toda a eternidade.

            

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DIA 18

            Faltam 10 dias. Fui e voltei da lanchonete pensando no acontecimento daquela tarde, visualizava e interpretava as reações e caras de Clarice ao saber dos meus reais sentimentos. Elaborava e tramava hipóteses, tentando lutar contra a negatividade tão característica minha, mas que por aqueles dias andava tão ausente que parecia ser sumido de vez. Os olhos dela se arregalando vagarosamente ao ouvir minha declaração era a cena que mais mexia comigo, me preocupava.
Tive a sensação de que ela não esperava que isso fosse acontecer, pelo menos naquele momento. Minha ingenuidade e timidez a faziam pensar que eu não seria capaz de cultivar algum sentimento do tipo, e mesmo se cultivasse, não teria coragem de expor. Na verdade ela tinha razão, eu não teria coragem de tudo isso mesmo, se não fosse minha vontade de mudar tudo. Esse era meu novo norte, meu rumo.
Cheguei ao hotel, parei diante da porta. Antes de abri-la tentei adivinhar o que aconteceria logo depois. Não tinha mais o que ficar pensando, estava feito e agora precisava ser encarado. De leve fui abrindo a porta, o breu característico de fim de tarde encortinava o quarto e escondia tudo que havia lá dentro. À medida que abria a porta, a pouca luz que vinha de fora iluminava o aposento, formando gradualmente a silhueta dos móveis. Entrei e vi Clarice sentava na cama, com as pernas cruzadas. Sua cabeça estava baixa, assim como os ombros. Quando percebeu minha presença, ergueu de leve os olhos:
- Vem cá, senta aqui. -  disse bem lentamente, quase soletrando cada palavra. Deixei o lanche sobre a mesinha de canto e sentei ao seu lado na cama.
- Andei pensando no que você falou. Tava no banho, não conseguia deixar de lado.
- Hum...olha, não tem problema se....
- Espera, deixa eu falar. – Falou com um tom meio ansioso, impaciente talvez.
- Tá. – respondi meio desconcertado.
- Você foi super fofo comigo desde o começo. Lá no ônibus mesmo, sempre me deu atenção e se preocupou comigo. Qualquer um tinha pulado fora nas situações que eu te meti. Você não, ficou ao meu lado quando eu mais precisei. Cuidou de mim sem nem me conhecer direito. – A essa altura eu já não sabia mais o que pensar. Paralisado atrás da porta do quarto imaginei que ela ignoraria a situação, tentasse contornar as coisas até que o assunto chegasse ao fim naturalmente.
Mas não. Não era isso que estava acontecendo. As palavras dela pareciam levar a situação a um rumo totalmente inverso e me fazia tremer compulsivamente. Ela se aproximou, o calor do seu corpo entrava em rota de colisão com o meu, até que suavemente os lábios dela repousaram sobre os meus, fervilhando o sangue que corria em minhas veias. O toque de nossas bocas me fez arrepiar. O atrito ia aumentando, os movimentos se aceleravam e em poucos segundos nos beijávamos com intensidade. Os braços dela envolviam meus pescoço, com a ponta dos dedos acariciava minha nuca onde iniciava o couro cabeludo, algumas vezes segurando meu cabelo.
Fomos nos separando aos pouquinhos, curtindo o fim daquele beijo. Antes de descolar nossas bocas, ela me deum último beijo, de leve, um selinho. Olhou para mim, deu um sorriso bem:
- Você tá me fazendo muito bem – disse ela, repousando sua cabeça sobre meus ombros.

- Você também – respondi, completando o abraço que ela iniciava. 

sábado, 17 de agosto de 2013

DIA 17

       Faltam 11 dias. Na manhã seguinte tudo ocorreu normalmente. Saímos, conhecemos alguns lugares, batemos perna por aí. Percebi que nossa sintonia estava mais afinada do que nunca, deixando cada segundo da viajem ainda mais maravilhoso. Os receios e as vergonhas iam desaparecendo, e nesse ponto, acredito que estavam reduzidos ao mínimo.
            Durante a tarde voltamos à praia, o dia estava bonito e um banho de mar seria perfeito. Por algum tempo permaneci alheio à Clarice e tudo que se passava entre nós, para curtir o visual e me deixar levar junto com o movimento das ondas. Sentei na beirada do mar, onde, se a onda viesse com força, a água alcançaria apenas os meus pés. O céu estava azul, bem azul, se misturando com o azul marinho e tornando quase imperceptível a linha horizontal que separavam o mar do céu. As nuvens e alguns pássaros se misturavam no infinito, parecendo dançar naquele esplendoroso palco.
            Fechei os olhos lentamente, puxei o ar até encher o peito, segurei alguns segundos e soltei. Abri os olhos e a cena ainda se passava exatamente com eu a tinha deixado.  Minha vida inteira eu tinha me privado dessa e outras belezas que o mundo proporciona. Estava tudo errado, e enfim eu tinha enxergado isso. Mais que enxergar, estava disposto a mudar e reverter essa situação, imediatamente. Olhei para trás, Clarice estava deitada de costas, tomando sol. Me levantei, desci até encontrar o mar, molhei as mãos, passei no rosto e dei uma última olhada par ao horizonte.
            Fui até onde Clarice estava, e antes de chamá-la, respirei fundo:
- Clarice – disse com tom de voz firme.
- Oi, já quer ir embora? Tô levantan...
- Não, não é isso. É que fui te falar ontem, mas não consegui. Tô gostando de você. – Ela franziu a testa, apertou os olhos que estava firmes em minha direção. Fiquei preocupado, ela se pareceu mais surpresa do que eu esperava, mesmo assim não me arrependia.
- Ahn...gostando, tipo gostar? – Respondeu totalmente desconcertada.
- É, tipo. Sei lá, você apareceu tão repentinamente e mudou tudo na minha vida. Nunca senti isso, gosto mesmo. – Sua expressão de susto ia aumentando na medida que minhas palavras chegavam aos seus ouvidos.
- Ah, ahn. Também me surpreendi com você, mas tipo. Não sei, acabei de viver tudo aquilo, ainda tô meio confusa.
- Não tudo bem. Não estou te cobrando nada, só queria q você soubesse. Não quero mais deixar de tentar, sempre deixei de lado. Agora não.
- Ah, de boa. Tá tudo bem. – Ela se levantou, me deu um beijo no rosto.
            Pegamos nossas coisas e voltamos ao hotel. Em silêncio, nenhuma palavra saía de nenhum de nós. Fiquei com medo do que poderia acontecer, podia ter estragado tudo e destruído toda nossa relação e jogado no ralo toda intimidade que tínhamos criado em tão pouco tempo. Chegamos ao quarto, ela foi pro banheiro:
- Vou tomar um banho, pra tirar o óleo, tá?
- Tá, enquanto isso vou comprar algo pra comer, quer alguma coisa?
- Pode trazer o mesmo que comprar pra você.

- Beleza. – Ela entrou pro banheiro e fechou a porta. Eu saí, e comigo o medo de ter colocado tudo a perder.