Faltam 12 dias. Naquela tarde, nada de interessante ou digno de ser
relatado aconteceu. Almoçamos perto da praia, voltamos ao hotel, tomamos um
banho e dormimos um pouco. Alguns assuntos superficiais surgiram, ocupando boa
parte do nosso tempo e relevando que nossa relação estava cada vez mais íntima
e natural. Eu nunca havia me entregado tão rápido assim a uma pessoa, com ela
era diferente.
Não precisava de esforço, de ensaios, de nada. As coisas fluíam, iam
acontecendo, simples assim. Como minhas experiências sociais eram quase nulas,
me perguntava se toda essa compatibilidade que nós tínhamos era normal com
todas pessoas, ou se era um fato raro, que podia indicar algum tipo de ligação
especial entre eu e Clarice. O meu novo eu preferia acreditar na segunda opção,
ainda que tivesse um pé atrás. O antigo tinha certeza que a primeira era
correta, e nem se dava ao trabalho de analisar a outra opção. Mas agora o
momento era do novo, ele decidia o que fazer ou não. A decisão de ser
diferente, mudar minhas atitudes e minha vida estava mais firme do que nunca
dentro de mim. O único medo que eu tinha agora era o de não fazer.
Naquela noite eu estava decidido a falar com ela. Expor meus sentimentos
e ver no que dava. Clarice não podia estar alheia a tudo, eu não era bom em
mentir e esconder as coisas, ela mesma tinha me dito isso. Observadora e atenta
como era, já teria flagrado mil vezes meus olhares, percebido todo meu
nervosismo ao falar com ela. Não a pegaria de surpresa, o que poderia ser
fatal. Pela primeira vez eu estava vencendo a minha infinda batalha interna.
Estava tão perto que desistir tinha deixado de ser uma opção. Iria falar com
ela a qualquer custo.
Nos preparávamos para dormir quando eu resolvi falar com ela;
- Clarice, quero falar com você. –
Assustei-a, com um tom de vez mais elevado do que o normal
- Ué, tá. – ela se aproximou da cama,
onde eu estava – O que foi?
- É que...- minhas mãos começaram a
suar. Meu peito parecia uma quadra de escola de samba, o coração parecia alçar
vôo. – eu...tava pensando e...
- O que foi? Tá tudo bem? Você parece
meio nervoso, está passando mal?
- Não, tá beleza, é só que... – Eu
não ia conseguir. Estava deixando-a preocupada, não queria criar um clima tenso
antes de revelar tudo. A viagem estava apenas no começo, ainda teria tempo –
Queria te agradecer por ter ficado comigo, aqui. Minha viagem não seria tão
legal se eu estivesse sozinho.
-Ah, cara! Era isso? Eu que tenho que
agradecer por tudo que você tem sido pra mim! Teve paciência comigo, nem me
conhecia e me deu toda a atenção do mundo. Obrigado você! – Disse, aliviada da
tensão que se criara durante o diálogo.
Ela
me abraçou. Um movimento forte, intenso. Senti ela me apertando, cravando as
unhas no meu ombro, como se não quisesse perder o que recentemente tinha
ganhado. Precisava proteger o que era seu, a qualquer custo. Esse gesto me fez
ter ainda mais certeza de que eu precisava falar com ela. Poderia estar
iludido, exagerando nas interpretações, mas poderia estar certo. Era uma dúvida
que só tinha uma única maneira de ser resolvida, e seria.
Mesmo
não sendo naquela noite, fiquei feliz com o acontecido. Aquela abraço
significou muito para mim, me deixou mais seguro. Quando deitamos ela me deu um
beijo no rosto, soltou um sorriso no canto da boca acompanhado por uma
piscadela. Depois de passar a primeira noite quase em claro ao lado dela, senti
que essa noite seria diferente. Estava mais tranquilo, mais relaxado. Me
entreguei ao sono, e dormi profundamente.
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