terça-feira, 13 de agosto de 2013

DIA 16

Faltam 12 dias. Naquela tarde, nada de interessante ou digno de ser relatado aconteceu. Almoçamos perto da praia, voltamos ao hotel, tomamos um banho e dormimos um pouco. Alguns assuntos superficiais surgiram, ocupando boa parte do nosso tempo e relevando que nossa relação estava cada vez mais íntima e natural. Eu nunca havia me entregado tão rápido assim a uma pessoa, com ela era diferente.
Não precisava de esforço, de ensaios, de nada. As coisas fluíam, iam acontecendo, simples assim. Como minhas experiências sociais eram quase nulas, me perguntava se toda essa compatibilidade que nós tínhamos era normal com todas pessoas, ou se era um fato raro, que podia indicar algum tipo de ligação especial entre eu e Clarice. O meu novo eu preferia acreditar na segunda opção, ainda que tivesse um pé atrás. O antigo tinha certeza que a primeira era correta, e nem se dava ao trabalho de analisar a outra opção. Mas agora o momento era do novo, ele decidia o que fazer ou não. A decisão de ser diferente, mudar minhas atitudes e minha vida estava mais firme do que nunca dentro de mim. O único medo que eu tinha agora era o de não fazer.
Naquela noite eu estava decidido a falar com ela. Expor meus sentimentos e ver no que dava. Clarice não podia estar alheia a tudo, eu não era bom em mentir e esconder as coisas, ela mesma tinha me dito isso. Observadora e atenta como era, já teria flagrado mil vezes meus olhares, percebido todo meu nervosismo ao falar com ela. Não a pegaria de surpresa, o que poderia ser fatal. Pela primeira vez eu estava vencendo a minha infinda batalha interna. Estava tão perto que desistir tinha deixado de ser uma opção. Iria falar com ela a qualquer custo.
Nos preparávamos para dormir quando eu resolvi falar com ela;
- Clarice, quero falar com você. – Assustei-a, com um tom de vez mais elevado do que o normal
- Ué, tá. – ela se aproximou da cama, onde eu estava – O que foi?
- É que...- minhas mãos começaram a suar. Meu peito parecia uma quadra de escola de samba, o coração parecia alçar vôo. – eu...tava pensando e...
- O que foi? Tá tudo bem? Você parece meio nervoso, está passando mal?
- Não, tá beleza, é só que... – Eu não ia conseguir. Estava deixando-a preocupada, não queria criar um clima tenso antes de revelar tudo. A viagem estava apenas no começo, ainda teria tempo – Queria te agradecer por ter ficado comigo, aqui. Minha viagem não seria tão legal se eu estivesse sozinho.
-Ah, cara! Era isso? Eu que tenho que agradecer por tudo que você tem sido pra mim! Teve paciência comigo, nem me conhecia e me deu toda a atenção do mundo. Obrigado você! – Disse, aliviada da tensão que se criara durante o diálogo.
            Ela me abraçou. Um movimento forte, intenso. Senti ela me apertando, cravando as unhas no meu ombro, como se não quisesse perder o que recentemente tinha ganhado. Precisava proteger o que era seu, a qualquer custo. Esse gesto me fez ter ainda mais certeza de que eu precisava falar com ela. Poderia estar iludido, exagerando nas interpretações, mas poderia estar certo. Era uma dúvida que só tinha uma única maneira de ser resolvida, e seria.

            Mesmo não sendo naquela noite, fiquei feliz com o acontecido. Aquela abraço significou muito para mim, me deixou mais seguro. Quando deitamos ela me deu um beijo no rosto, soltou um sorriso no canto da boca acompanhado por uma piscadela. Depois de passar a primeira noite quase em claro ao lado dela, senti que essa noite seria diferente. Estava mais tranquilo, mais relaxado. Me entreguei ao sono, e dormi profundamente.

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