sexta-feira, 20 de setembro de 2013

DIA 20

Faltam 8 dias. O afeto que nos tomou criou um novo clima, um novo ambiente, como uma redoma de vidro. Tinha criado um universo paralelo, que nos acolhia tão maravilhosamente e nos fazia os únicos habitantes daquela realidade. A manhã que se seguiu à nossa noite de amor foi bem menos estranha do que eu temi. Como de costume, ela acordou antes de mim, já tinha se trocado e saía para a sala do café. Quando me despertei fiz questão de não avisá-la. Esperei que deixasse o quarto, assim teria mais tempo para pensar nas possibilidades que nosso primeiro encontro após o acontecido teriam.
            E se ela tivesse se arrependido? Se não tivesse passado de um momento, apenas? Será que ela teria vergonha de me olhar? Eu sem dúvida tinha. Nunca havia lidado com essa situação pós-transa, não sei como devia agir e muito menos como ela reagiria. Continuei deitado, naquela morbidez matinal, esperando que uma ideia caísse dos céus, ou de qualquer outro lugar. Clarice chegou antes da ideia, sem chegar a uma decisão, voltei a fingir que dormia. Diferentemente dos outros dias, ela veio me acordar. Senti sua presença, de leve, avançando pela cama. Segundos depois ela me deu beijo, que acompanhava um gemido me pedindo para acordar.
- Bom dia! – Ela falou quando abri meus olhos, bem devagar para não destoar e denunciar minha encenação
- Bom dia, tudo bem? -  Respondi com naturalidade, sugerindo que nada tivesse acontecido.
- Tudo, e aí, dormiu bem?
- Dormi.
- Nossa, como assim, dormi? Só? Nem parece que...
- Ué, não. Dormi muito bem mesmo, é que ainda tô meio sonolento – menti.
- Hum...esperava que você acordasse mais feliz, sei lá. Eu acordei...
- Eu também, Clari. Desculpa, vem cá – falei abrindo os braços na esperança que ela se acolhesse entre eles.
- Ah, tá! – exclamou mais animada, respondendo ao meu gesto. – Clari? Nunca haviam me chamado assim – soltou uma risada – gostei. Vem aqui comigo. – me puxou da cama, sem ao menos me dar tempo de vestir melhor. Pegou na sua bolsa a carteira de cigarros, que eu nem lembrava que existia, e acho que ela também não, já que durante todo esse tempo não senti cheiro de fumaça ou nicotina nela.
-  Já fumou? – perguntou.
- Não.
- Sério?
- Aham
- Então fuma um desses comigo, só pra relaxar.
- Ah. Não. Acho que não faz meu tipo isso aí...deixa pra lá.
- Só um! Eu quase nunca fumo, muito as vezes. Você nunca ouviu falar que depois de...
- Já! Que é costume, né? Mas não levo a sério...
- Eu também não, mas...Ah vai logo – foi me empurrando um, enquanto tentava acendê-lo. – É só não puxar muito forte, deixa o fumo queimar naturalmente, devagarzinho... – Explicou colocando o cigarro na minha boca. Senti novamente o gosto amargo da nicotina, que obviamente não contaria a ela que já tinha conhecido naquela circunstância ridícula. Segui o que ela falou, não traguei e deixei a fumaça, aos poucos, entrar em minha boca. Para minha supresa não me engasguei de novo, nem senti ânsia de vômito. Suportei aquilo, e me senti aliviado por não passar mais uma vergonha na frente dela.
- Viu? É Tranquilo...
- É – concordei baforando uma nuvem de fumaça. – Ficamos mais algum tempo por ali, ela pegou um e me acompanhou. Terminamos de fumar, tomei um banho e nos preparamos para sair mais uma vez. Os dias iam se passando, a viagem ia acabando e tínhamos mais alguns lugares para aproveitar.